Foto do acervo da artista |
A coleção de encadernações dos Cubos Emplumados é uma parceria com Mariana Leal. A Mari é uma artista com todo elán do mundo e uma amiga de longa data. A admiração mútua rola desde sempre e finalmente conseguimos realizar um trabalho juntas depois de muita conversa. Segue um texto da Mari falando de seu projeto que por enquanto está em encadernações mas como tem asas vai percorrer outras superfícies em breve.
Cubos emplumados
São desenhos que eu deixo a mão fazer… enquanto penso em
outras coisas, enquanto falo, enquanto não penso, enquanto sinto.
Brotam dos fluidos das canetas e do carbono dos lápis
sobre bordas de papéis onde escrevo, sobre notas fiscais, sobre textos e
listas, sobre a pele de amigos... sobre pistas onde eu danço com a mão, sem
prestar atenção.
O nome ”emplumado” peguei emprestado das antigas
divindades mesoamericanas que vi descascadas em ruínas, no México.
Meu botão de traçado automático empluma as coisas que
desenha. E desenha cubos.
Talvez atendendo aos pedidos do meu ser por vôo e base.
Faço cubos divindades – tentativas de ascensão da energia
do chão.
Blocos incolores, ensaiando a construção de uma
civilização mais translúcida, como a água, como o quartzo, como o vidro.
Cubos de ouro amigo aterrissando… E chegando nas mãos em missão
de paz.
Cubos naves espaciais: naves-mães que pousam em ninhos –
quentinhos.
Universos dando a luz a caixas de presente...
transparentes – incubando cores vivas pra mãe Terra.
Caudas abertas em leque de pavão macho. E olhos abertos em
penas-antenas – emplumando cabeças como coroas.
Cubos que chegam às dezenas... centenas....
Desejando passar em revoada pelas roupas penduradas.
Desejando um dia encostar na pele de objetos do
dia-a-dia.
Pra poderem conviver com as pessoas.. e cochichar coisas em
seus ouvidos...
E recostar em ombros amigos, ajudando a carregar seus
pesos...
Sonhando usar o centro de algum peito como pista de pouso...
ou abastecimento.
Sonhando habitar livros feitos de um papel viçoso.
Sonhando abrir as paredes desse mundo novo a uma outra
dimensão.
Por gratidão.